29
out
22

Carta de Alan Moore sobre as eleições de 30 de Outubro

Caro Brasil,

As chances restantes para salvar o planeta e as suas populações estão se esgotando rápido. Nosso mundo está mudando, mais rápido do que em qualquer era, e nos forçando a nos adaptar mais rápido se quisermos sobreviver. De caçadores-coletores à agricultura, da agricultura à indústria, da indústria para o que quer que estejamos nos tornando agora – essa nova condição para a qual ainda não temos nome – a humanidade já viu esses tipos de transições monumentais no passado, apesar de pouco frequentes. Essas transições não são causadas por forças políticas mas pelas ondas irresistíveis da história e da tecnologia, que é uma onda a qual podemos aproveitar ou sermos arrastados por ela. A terra está se transformando, por necessidade, em um novo planeta, e nós podemos nos transformar juntos com ela ou perder para sempre a biosfera que nos sustenta. A maioria das pessoas, acredito, sabe isso em seus corações e o sente em seus estômagos. Mesmo assim, nos últimos cinco anos mais ou menos, temos visto ao redor do globo um ressurgimento feroz das mesmas ideias políticas e econômicas que nos levaram a essa situação. A agressão explícita desse avanço da extrema direita me parece tão forçado, e também tão distante da realidade, que só pode ser filha do desespero; o medo histórico sentido por aqueles que mais se beneficiam das estruturas de poder do velho mundo, que sabem que o novo mundo pode, no fim, não ter espaço para eles. Com medo por sua própria existência, pela existência do mundo que tanto os beneficiou, na última década eles povoaram o palco político com personagens cada vez mais estridentes e caricatos, para os quais nenhuma atitude é por demais corrupta ou desumana, e nenhuma linha de raciocínio absurda demais.

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09
jan
20

O Profeta – Sobre a Amizade

Quando se separarem do amigo, não se angustiem;
Pois aquilo que vocês mais amam nele pode-se aclarar em sua ausência, assim como o o alpinista vislumbra melhor a montanha da planície.
E que não haja propósito outro na amizade que o aprofundamento do espírito.
Pois o amor que não busca senão a revelação de seu próprio mistério não é amor verdadeiro, mas uma rede que, lançada, só apanha o imprestável.
Khalil Gibran. O Profeta. (pág. 70)
28
abr
19

Relação entre anarquismo e aristocracia

proudhon[…] A diferença entre a concepção anarquista de estratégia num mundo dominado pela política e outras utilizadas pelos movimentos com os quais competiu é provocada, em parte, pelo individualismo libertário e, em parte, pela convicção – já observada por nós – de que, pelo menos em sentido amplo, os meios afetam profundamente os fins. Compartilhando metaforicamente a afirmação de Cristo de que não se pode trocar demônios por Belzebu, os anarquistas consideram contra-revolucionárias todas as instituições e partidos que têm como base a ideia de regular as transformações sociais por meio de atos do governo e leis criadas pelo homem. Como prova desse argumento, apontam o fato de que todas as revoluções realizadas por meios políticos acabaram sempre em ditadura: recorrer à coerção acabou por transformá-las, fazendo com que traíssem o ideal revolucionário. É por essa razão que os anarquistas não apenas rejeitam a ação política como tal, mas atacam também o reformismo – a ideia de que a sociedade poderá ser transformada através de medidas graduais – e negam a teoria de que deve haver um período de transição entre o Estado capitalista e a sociedade anarquista. Talvez seja realmente impossível que a sociedade consiga atingir a liberdade completa de uma só vez, mas o anarquista acredita que este deveria ser o seu objetivo básico e que ela deveria continuar lutando, utilizando todas as falhas da sociedade para atingi-lo.

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31
mar
16

Curadoria – a terceira fronteira da web

Posted by Guest Writer – January 8, 2011 
Este é um artigo escrito pelo convidado Partice Lamothe – Diretor Executivo do Pearltrees (Pearltrees é um cliente da consultoria do SVW). Esta é uma versão levemente editada do artigo “La troisiéme frontiére du Web” que apareceu na revista OWNI – Jornalismo Digital – Março de 2010. O artigo propõe que os princípios fundadores da Internet só agora estão sendo implementados e que a próxima fronteira é organizar, ou fazer a curadoria, da Internet.
Por Patrice Lamothe
 
Patrice_N_B_800pixTodos estão percebendo que a web está entrando em uma nova fase de seu desenvolvimento.
Um dos indicativos desta transição é a multiplicação das tentativas de explicar as mudanças que estão acontecendo. Explicações funcionalistas enfatizam a web em tempo real, sistemas colaborativos e serviços georeferenciados. Explicações técnicas argumentam que a interconectividade entre os dados é o desenvolvimento atual mais importante. Eles consideram as novas fronteiras da web intimamente relacionadas à web semântica, ou à “web das coisas”.
Apesar destas explicações serem ambas pertinentes e intrigantes ao mesmo tempo, nenhuma delas oferece uma matriz analítica que dê conta de explicar o desenrolar dos acontecimentos atuais. Algumas ideias são específicas demais.
A “web em tempo real”, por exemplo, é uma das tendências mais claras e influentes atualmente. Mas, uma vez feita essa observação, não temos uma pista sequer acerca da utilidade ou do impacto da “web em tempo real” ou, mais importante, como isso se encaixa no desenvolvimento da web como um todo.
Em contraste, outras explicações são abrangentes demais para servir a qualquer fim útil.

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08
nov
15

Cathy Levine – A Tirania da Tirania

Uma crítica ao artigo A Tirania das Organizações Sem Estrutura, por Cathy Levine.

Um artigo intitulado ‘A Tirania das Organizações Sem Estrutura’ o qual teve ampla repercussão dentro do movimento feminista, (na Revista MS, Segunda Onda e etc) critica a tendência em direção a grupos ‘horizontais’, e ‘sem estrutura’, como se fossem a principal – se não a única – forma organizacional do movimento, como um beco sem saída. Ao mesmo tempo em que foi escrito e recebido em boa-fé, como uma ajuda ao movimento, o artigo é destrutivo em sua distorção e difamação a uma estratégia válida e consciente para a construção de um movimento revolucionário. Já passou da hora de reconhecermos para quais direções essas tendências estão apontando, como uma alternativa política concreta à organização hierárquica, ao invés de matá-las antes de nascer.

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11
maio
15

Crimethinc – Por que não fazemos propostas

ingsocDe Occupy a Ferguson, sempre que surgem movimentos populares, os comentaristas os acusam de não possuírem demandas concretas. Por que os descontentes não resumem os seus objetivos em pautas coerentes? Por que não elegem representantes que possam negociar com as autoridades de forma a fomentar uma agenda concreta através dos canais institucionais adequados? Por que estes movimentos não se expressam em uma linguagem comum, usando códigos consagrados?

Frequentemente isso não passa de retórica dissimulada daqueles que gostariam que os movimentos se limitassem a demandas bem comportadas. Quando perseguimos objetivos que eles preferem não reconhecer, nos acusam de sermos irracionais ou incoerentes. Compare a Marcha Popular pelo Clima do último ano, que juntou 400.000 pessoas em defesa de uma mensagem simples ao mesmo tempo em que fazia tão pouco para protestar que tornou desnecessário às autoridades realizar uma prisão sequer. Quando foi a última vez que 400.000 pessoas se reuniram em Nova York sem que a polícia prendesse alguém? Aquilo foi mais uma válvula de escape do que um protesto propriamente dito, mais uma forma de pacificação ativa — uma forma de diminuir os atritos entre os protestantes e a ordem à qual eles se opunham – com as revoltas ocorridas em Baltimore em Abril de 2015. Muitos louvaram a Marcha Pelo Clima enquanto tachavam as revoltas de Baltimore como irracionais, inconscientes e ineficazes; ainda assim a Marcha Pelo Clima teve pouco impacto concreto, enquanto as revoltas de Baltimore obrigaram o Procurador Geral a formalizar acusações contra policiais, algo praticamente sem precedentes. Você pode apostar que se 400.000 pessoas respondessem às mudanças climáticas da forma como milhares responderam ao assassinato de Freddie Gray, os políticos mudariam suas prioridades.

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17
dez
14

Paul Krugman – Sobre a negação da desigualdade

1º de Junho de 2014

Paul Krugman

Paul Krugman

Há um tempo atrás publiquei um artigo intitulado “Os Ricos, a Direita e os Fatos,” no qual descrevi esforços politicamente motivados a negar o óbvio — o agudo aumento da desigualdade nos EUA, principalmente no pico da escala de renda. Talvez não o surpreenda ouvir que encontrei uma série de erros estatísticos sendo praticados nos mais altos escalões.

Talvez também não o surpreenda saber que não mudou muita coisa. Os suspeitos de sempre não apenas continuam a negar o óbvio, mas continuam destilando os mesmos argumentos desacreditados: A desigualdade na verdade não está aumentando; O.K., ela está aumentando mas isso não importa porque temos muita mobilidade social; de qualquer forma, é uma coisa boa, e qualquer pessoa que sugira que isso é um problema só pode ser marxista.

O que talvez o surpreenda seja o ano em que publiquei este artigo: 1992.

O que me traz à última rixa intelectual, deflagrada por um artigo escrito por Chris Giles, editor do caderno de economia do jornal The Financial Times, atacando a credibilidade do best seller de Thomas Piketty o “Capital no Século XXI.” Giles declarou que a obra do Sr. Piketty comete “uma série de erros que comprometem seus resultados,” e que na verdade não há evidências do aumento da concentração de renda. E como praticamente todo mundo que já seguiu essas controvérias através dos anos, eu pensei, “Lá vamos nós novamente.”

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17
dez
14

Nicolas Walter – Ação Anarquista

Nicolas Walter

(in Sobre o anarquismo, 1969)

Nicolas WalterA diferença entre teorizar sobre o anarquismo e colocá-lo em prática implica em uma mudança de estrutura. O típico grupo de discussão ou propaganda, aberto à participação de estranhos e à vigilância das autoridades e que tem como base o fato de que cada um pode fazer o que quiser e não fazer o que não quiser tornar-se-á mais exclusivo e formal. Este é um momento de grande perigo, já que uma atitude demasiado rígida levará ao autoritarismo e ao sectarismo, e a indulgência resultará em confusão e irresponsabilidade. É um momento de perigo ainda maior também porque, no momento em que o anarquismo passa a ser um assunto sério, os anarquistas passam a representar uma ameaça real e a verdadeira perseguição começa.

A forma de ação anarquista mais comum é fazer com que a agitação provocada por uma determinada questão se transforme em participação ativa numa campanha. Esta tanto poderá ser reformista, tentando mudar alguma coisa sem alterar todo o sistema; ou revolucionária, pregando uma transformação do próprio sistema; poderá ser legal, ilegal ou ambas; violenta, pacífica ou apenas não-violenta. Poderá ter possibilidades de sucesso ou ser, desde o início, uma causa perdida. Os anarquistas tanto poderão ter grande influência, e até mesmo dominar a campanha, quanto ser apenas um dos grupos participantes.

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14
dez
14

Emma Goldman – O Fracasso da Revolução Russa

Emma Goldman


(In My Further Disillusionment with Russia, 1924)

Emma GoldmanFicam agora bem claros os motivos que fizeram com que a Revolução Russa, tal como foi conduzida pelo Partido Comunista, fosse um fracasso. O poder político do partido, organizado e centralizado no Estado, procurou manter-se utilizando todos os meios de que dispunha. As autoridades centrais tentaram fazer com que o povo agisse de acordo com modelos que correspondiam aos propósitos do Partido, cujo único objetivo era fortalecer o Estado e monopolizar todas as atividades econômicas, políticas e sociais e até mesmo as manifestações culturais. A revolução tinha objetivos totalmente diferentes pelas suas próprias características, era a negação do princípio da Autoridade e da centralização. Ela lutava para alargar ainda mais os meios de expressão do proletariado e multiplicar as fases do esforço individual e coletivo. Os objetivos e as tendências da Revolução eram diametralmente opostos àqueles do Partido Governante.

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14
dez
14

William Godwin – Educação Pela Vontade

(in The Enquirer, 1797)

William GodwinA liberdade é a mais desejável de todas as vantagens sub-lunares. Seria, portanto, de bom grado que eu transmitiria conhecimentos sem infringir, ou tentando violentar o menos possível, a vontade e o julgamento da pessoa a ser instruída.

Repito: desejo despertar num determinado indivíduo a vontade de adquirir conhecimentos. A única forma capaz de despertar num ser sensível a vontade de realizar um ato voluntário é exibir-lhes os motivos que justificam este ato.

Há duas espécies de motivos: os intrínsecos e os extrínsecos. Os motivos intrínsecos são aqueles que surgem da própria natureza inerente ao objeto recomendado. Os extrínsecos são aqueles que, não tendo uma ligação constante ou inalterada com a coisa recomendada, estão associados a ela ou por acidente ou pelo desejo de um indivíduo.

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